Nunca é tarde para voltar a escrever. Aliás, não sei porque parei de escrever um dia, já que narrar coisas que me acontecem ou meus próprios pensamentos fazem parte de uma forma de autoconhecimento.
Em 2021 continuo pensando na vida e na minha vida. Olho para os anos que se passaram, releio o que passei. Lembro do que me aconteceu.
Foi no dia 23 de dezembro de 2019 que tomei o "tapa na cara" do destino. Nesse fatidico dia, uma segunda-feira, quando achava que minhas férias do trabalho começariam, foi quando marquei um almoço com uma pessoa e não esperava ficar paralisada. É, meu corpo paralisou.
Estava dirigindo e comecei a passar mal e, por sorte, o transito de São Paulo como sempre estava parado. Pedi para quem me acompanhava tomar a direção e... apenas tive tempo de parar o veículo.
Meu corpo parou. Minha mente continuava consciente, mas meu corpo não respondia. Meus braços e pernas não conseguiam se mover. Minha cabeça ficou caída, mas eu ainda conseguia falar, mas parecia que tinha tomado umas vinte cachaças.
Deus escreve certo por linhas tortas, pensei horas mais tarde. Parada no acostamento, em cima de um viaduto, transito parado e apareceram muitas pessoas para me socorrer, dentre elas um homem com grandes braços e músculos que conseguiu me colocar no banco do passageiro para que eu pudesse ser levada ao pronto socorro pela pessoa que me acompanhava.
No hospital chega o diagnostico: AVC isquêmico. Como? porque? qual o tratamento? Todas respostas que viriam depois da saída do hospital e nos 2 meses seguintes, já em 2020.
Mal sabia que no dia seguinte (véspera de Natal) outro episódio me daria outro tapa na cara. Na segunda vez eu não quis voltar ao pronto socorro, o que me rendeu depois um puxão de orelha do neurologista.
Eu que achava que a vida podia ser negligenciada, nunca tinha sentido tanto na pele as mensagens que meu corpo e o estresse de anos me mostrava. Chegava então a primeira mensagem.
O episódio foi só o começo pra descobrir o real problema e que médicos próximos da familia, inclusive minha mãe que também é médica, não conseguiriam prever.
Pois bem, só no final de janeiro, após consultar neurologistas, cardiologistas e fazer um monte de exames, descobri finalmente a causa: meu coração tinha um defeito de "fabricação". O sangue oxigenado com o não oxigenado se misturavam devido a um buraco que existia dentro das cavidades.
Qual seria a solução? Uma cirurgia e colocação de uma prótese para fechamento do 'forame oval patente'(nome técnico do defeito congênito).
E foi em 06 de março de 2020, após muita correria para fazer os exames e conseguir forçar meu plano de saúde a aceitar e autorizar, finalmente realizei a cirurgia. Fiquei ótima, mas aí a segunda mensagem quando veio a pandemia: desta vez você conseguiu.
É... eu consegui. Uma sensação de alívio pois pouco mais de 10 dias após realizar a cirurgia seria decretada a pandemia mundial e todas as cirurgias foram canceladas em todos os hospitais do Brasil.
Ainda tento entender porque passei por tudo que passei e que lições consigo tirar das mensagens que me foram passadas pela vida (ou talvez pelo destino). Sei que depois destes episódios algumas coisas mudaram em mim, mas ainda estou assimilando aos poucos cada uma das mensagens. Hoje cada dia tem sido uma descoberta nova de mim e dos propósitos do porquê vivemos.